sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Te espero...


Ele sai enquanto durmo e me acorda na hora de seu almoço todo dia, e todo dia em silencio me alimento de teu calor, e o frio me domina um pouco quando ele saí. Não falo de coisas tristes e nem de coisas alegres, apenas quero sentir seu calor, se puxar assunto, é por que vou alegra-lo ou me sentir mais próxima se falar.

Ele saí, e eu abraço o travesseiro morno e deito em seu lugar, para que o resquício de calor e cheiro, me confortem da separação e afastem os monstros que me dão pensamentos ruins e alucinações. Ele voltará, penso agarrando o travesseiro que me dá um pouco mais de seu aroma antes de levantar e arrumar a cama.

Ocupo a cabeça com inutilidades, por que espero que a hora passe logo.


Sem você é frio aqui. E tudo parece mais difícil. Não quero sair do quarto, nem comer, nem beber. Não quero dar trabalho e nem sinal que existo, quero existir só quando esta por perto.

Sinto vergonha de não ajudar em nada financeiramente, e minhas pernas me dão agonia de ficar em pé. Quando estou sozinha, não ligo de cair, mas quando to perto dos outros, não quero causar preocupação. Quando minhas pernas amoleciam demais, pensava em querer arranca-las, por que a prótese não ia amolecer, certo? E ninguém ia se preocupar.


Eu aprendi que não preciso fingir que não choro e nem que vou forçar sorrir para vc. Se doí, sei que vc sabe ver em meus olhos.

Então me aqueça quando vir para casa. Por que passei a tarde esperando isso. 

A psicologa


Sentada na outra cadeira esta uma moça que me ouve calada e faz anotações... Sentada do outro lado do comodo esta uma jovem pouco mais velha que eu, ela me ouve e eu lamento a solidão e minhas dores.

Dores que odeio ter, sentimentos que desprezo e não quero que façam partes de mim. Ela os ouve imparcialmente. A jovem apenas sorri delicadamente para mim, enquanto mostro a dor e a escuridão sombria do meu peito.

Toda a escuridão que dia sim e dia não derramo em lágrimas no ombro do meu amado. Não me vejo um eu bonito, eu vejo um monstro feio que detesto no espelho. Mas que devagar tenta inutilmente ser alguma coisa mais bonita. Devagar o monstro desaparece no espelho, e eu vejo apenas uma garota ¨danificada¨ por não se cuidar.

Por acaso já disse o quanto minha mente me machucava? Eu já disse o quanto estou frustrada?

-Logo vc vai sarar e será normal...

É o que eu escuto... sempre. Eu... sou anormal?

-Suas pernas ruins vão sarar... vc sabe, vc será normal quando poder ser livre novamente...

Livre?

Esta palavra é bonita, mas o que é mesmo liberdade? É um vento no rosto de braços abertos? É um dia ensolarado feliz? É fazer suas escolhas e se responsabilizar por elas? o mundo antigo era feito disto.

Mas, meu corpo não sabe que minha alma quer ser livre. Ele não sabe, ele não entende, se entende, então parece que seu melhor não basta. Eu caí e me machuquei, minha perna mesmo curada esta fraca para que eu possa andar. Tenho sorte e esta melhorando, mas... por que ainda reclamo? Pelo medo e inseguranças da perna amolecer e eu cair? Por que queria pagar as dívidas e ajudar meu esposo? por que... estou triste de não alcançar muitas coisas?

Meus sentimentos causam me dor e também felicidade. Se eu pudesse desejar algo, desejaria poder escrever coisas maravilhosas e que preenche a vida das pessoas, de bons sentimentos ou sentimentos tristes, isso dependeria da história, do que cada pessoa busca, afinal, nem todos desejam ser felizes... Por mais absurdo que isso soe aos ouvidos, uma coisa que aprendi é: ¨Nem todos querem a felicidade para si¨. Por que as vezes priorizam outra coisa, ou por que acha que não merecem, ou... Só Deus sabe por que...