quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Noite em claro, moral é claro

Passei a noite em claro depois de um pesadelo. E infelizmente, eles são memórias de um passado distante.

Às vezes eu me pego perguntando. O que aconteceu comigo?
A minha mãe abraça minha foto de quando era criança, beija e diz que ama. Mas quando ela me vê ela me olha e diz friamente bom dia. Ela já gritou comigo várias vezes. Você é um monstro.

Eu cresci assim, do bebê mais lindo do mundo para o monstro que ela não podia jogar fora. Ela dizia que não podia me dar para adoção pois não era moralmente correto uma mãe fazer isso. Mas ela me odiava. E não permitiu ninguém mais ser minha mãe, ninguém mais me amar.

Eu ainda sinto isso. Para aonde foi aquele amor? Por que diabos Deus permitiu que eu crescesse?

Ainda me lembro dela calando meu choro no tapa mandando ser adulta, que eu era o monstro que a impedia de dormir.

Eu fui o monstro do armário do meu irmão, lia histórias, fazia seu jantar, lhe dava banho e ficava a dar remédios e medir sua febre. Eu precisava bater nele quando ele fazia merda, mas… eu pegava o chinelo macio e as vezes mandava ele chorar e berrar como se doesse, pois… Ela estava olhando.

Eu desejava fazer o que fizeram comigo...
Eu queria ver o que os adultos viam quando eu gritava... Eu preciso saber...

Então, eu vim ser o monstro que sempre quis ser aqui. Eu pego minhas bonecas e digo. Vamos quebra-las juntos?

Isso é moralmente correto? Não... Nós sabemos que não. Mas, eu não posso dormir sem reviver essas memórias... Vamos lá... Vem brincar comigo.

Me deixe ter "pesadelos" acordada. Por que quando eu fechar os olhos. Quero me esquecer da minha infância.

Ou quem sabe, passar alguns lápis de cor pastel nisso tudo. Ou… tirar todas as cores e deixar só preto e branco e retorcer tudo isso em palavras.

O monstro ainda se lembra do bebê alegre que um dia fui… o que raios houve comigo? Por que isso me afeta tanto?

Sabe… eu odeio as minhas fotos. Minha mãe as ama. Como jamais vai me amar um dia.

Afinal, eu sou o monstro da casa. E é moralmente errado ela me jogar fora e me libertar. Ela precisa me manter na gaiola e fingir que me ama. Afinal, ela é minha mãe
 Mas, acredito que eu teria mais valor sendo enterrada. Pois, ela sempre diz como é ruim ser mãe de uma filha morta. Afinal, eu sou só um monstro.

Eu odeio o moralmente correto.

Para mim prioridade é: tem vítimas? Isso fere alguém física ou psicologicamente? Não? Então vamos fazer o moralmente correto.

O moralmente correto faz vítima? Então... Talvez devemos ser imorais, não?

Bem, isso me faz um monstro. É o que dizem...