terça-feira, 31 de janeiro de 2023

O que houve?


Eu não estou bem. Estou sempre sonhando com a perda das coisas que mais me importam, sempre afogada em um loop infinito de dor e angústia, até acordada as vezes isso passa diante dos meus olhos como uma projeção.


Eu sei, isso não é bom. Eu estou doente. Mas me frustra olhar me no espelho. Não há cortes, hematomas, ossos quebrados. Fisicamente estou perfeitamente saudável. 


Até meus remédios são comprimidos e líquidos. Eu não posso ver minhas feridas emocionais cicatrizando. Eu não posso ver a mudança em mim.


Eu me sinto afogada em dor. Como posso iniciar uma amizade assim? Como posso ter alguma energia assim?


Mas ao mesmo tempo me sinto afundando em um poço sombrio, me sinto solitária.


Quero escrever histórias ruins, quero descrever meus demônios em palavras e sentir que alguém pode me puxar para longe deles. 


Uma metáfora… estranhamente me sinto calma assim.


Mas eu sou frágil, não é qualquer um que vou deixar me ajudar, não é qualquer um que quero mostrar minha fragilidade.


Como um animal selvagem ferido. Eu vou me debater e revidar. Como saberei que posso fechar os olhos e confiar que vai tirar o que me fere e não afundar mais isto em minha carne? Como saberei que é unguento e não vinagre com sal?


Como saberei?... Eu preciso pedir ajuda. Mas… não posso, pois não confio em ninguém para isso. Preciso sair daqui sozinha. Mas já sinto que as forças me abandonaram…


Bem, por hora… só me resta silenciosamente esperar um milagre e uma decisão em minha mente indecisa.


Eu preciso de ajuda. Mas também não a quero, pois… quais são suas intenções comigo?... Me ferir mais? Me ajudar? E por que?... O que ganha com isso?


Odeio estar sozinha… mas… a companhia de outros me soa assustadora. Eu temo mais os vivos do que os mortos…


A mesma mão que me acariciou… também é a mesma que me enforcou. Não sou um filhote…

Apesar que queria ter tido a chance de ser um um dia. Sem temer em estar vivo no dia seguinte… sem se perder…


Apesar, que eu já me perdi. Dentro de mim mesma.

sábado, 7 de janeiro de 2023

Criança Birrenta


Acho que cresci e virei uma criança birrenta e mimada. Lembro-me quando caia aos 4 anos e tinha mil pessoas me pegando no colo e me dando todo o amor do mundo e atenção para o meu ralado.


Fiz 8 anos, meu irmão nasceu e meu pai estava sempre ausente por causa do trabalho. Então eu chutei uma bola e prendi meu pé na cerca, o sangue estava quente, não senti dor alguma, apenas olhava aquela ferpa enorme no meu pé.


-Mae!!! Eu prendi o pé!!! Me ajuda!


Lembro de ficar uma eternidade, talvez fosse a adrenalina e ela mandar eu sair dali sozinha, talvez por que no outro dia prendi a calça e gritei por ela. Talvez ela pensasse que é só a birra do filho mais velho…


Eu só sei que puxei meu pé dali. E a dor veio após 3 passos, o sangue desceu e eu comecei a chorar. As vozes na minha cabeça diziam que eu ia morrer, que ia infeccionar, que eu ia agonizar e perder o pé igual vi em um canal da tv.


Era só um pequeno machucado, mas minha visão estava embaçada, a visão turva e o peito doendo e faltando ar, queria gritar e pedir ajuda, mas… mas ninguém viria. Ninguém veio.


Naquele dia manquei até o tanque de lavar roupa, lavei o pé até estancar. Ouvi minha avó chiando que estava melando o chão de sangue, que ia manchar o piso.

E então peguei um pano e foi em um pé só limpar a "bagunça". As vozes riam. E eu sentia um nó na garganta, eu chorava muito.

Minha mãe veio quando levei um ou dois tombos tentando limpar e ficar em pé. Lembro que depois ela colocou um bandaid no meu pé e que era só um furinho.


Por dentro ficou preto, manquei por muitos dias, pareceram meses. E sempre que via a cicatriz eu lembrava de como fui abandonada…



Eu sou descartável. 


E esse sentimento solitário me fez parar de gritar por ajuda. Me fez engolir meus medos e seguir sozinha como se enfrentasse o mundo só eu e eu mesma.


As vozes me comiam viva… e ninguém percebia. Como aquele pé ferido por dentro….


Eu aprendi a chorar quieta… a cicatriz era minha única companheira, provando que tudo aconteceu e que não foi só uma alucinação tola.


Era só eu… e o mundo inospito.


É só uma cicatriz boba, que eu desejei que jamais sarasse. Pois sem ela, minha mãe jamais acreditaria em mim... Ela jamais acreditaria...