quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

não quero UM REAL DESSA...


Do começo. DO COMEÇO!!!

Meu avô japonês era de uma família rica que veio ao Brasil para ganhar mais dinheiro. Nível? Nível que pegava avião particular para ver terras na Amazônia na época que guaraná só vinha em vidro. (Popularmente: a época do guaraná com rolha)

Bem, isso foi ruim, aparentemente o avião caiu e esse querido tio bisavó ou bisavô perdeu a vida.

Segundo meu falecido avô, foi uma guerra na família por herança, ele irritado de tanta briga disse, não quero a minha parte e se tornou o parente mais pobre da família, criando meu pai e seus irmãos na miséria, mas ele é um guerreiro e conseguiu comprar uma casa de terreno grande no interior de SP, onde viveu até falecer.

Meu pai, seguiu seus passos, foi ao Japão e trabalhou junto com minha mãe para comprar imóveis e assim ter uma renda simples passiva.

Por motivos que não compreendo, meu pai precisou passar ao nome meu e do meu irmão menor de idade.

Até aí,tudo bem, né?

Tá garantido o seu, não?


O CAR@LH0 QUE TA!!!!

Volta e meia preciso assinar algum documento, dar autorização de algo. Odeio isso.
Mas é só assinar...


Ok. O problema que isso é tecnicamente minha herança. E eu não quero nenhum real, nada. NADA!!! Desejo que fique tudo para meu único irmão mais novo.
Pois isso deu muita dor de cabeça, cheguei sonhar em morar em uma das casas, mas quando falava isso diziam: não, mas você deve alugar isso, ter grana. Você vai trabalhar e conquistar o seu.

Por que diabos então me disse que tenho essa #$@#?

Aí comecei namorar. E depois de alguns namoros rapidamente me apaixonei e quis casar. E seremos sincera, queria casar logo para ir embora e transar. Sim, era virgem, por que queria andar "na linha" ao mesmo tempo que só pensava em ficar logo no felizes para sempre. E por que a perturbada aqui acreditava no ditado popular.

"Quando casar sara"... Aham, vai nessa...

Essa tal "Herança", sempre veio com palavras que meu futuro estava quase que garantido, que teria uma boa vida. Que estava melhor que sei lá quem.

Sabe, eu não queria herança. Eu queria aquele cachorro quente de sábado de tarde quando tinha 12 anos. Eu queria aquela pizza para comemorar que tirei 10 em alguma matéria após passar a noite em claro estudando.

Eu queria muito mais fotos e memórias de momentos juntos em família, rindo curtindo. Sem o maldito quanto curta, o orçamento é X. Se for mais que Y desista.

Poxa... Uma vez. Uma vez na vida. Eu queria ter sido mais importante que esse maldito dinheiro economizado. Eu queria mais que ouvir "Você é nosso maior tesouro".

Eu QUERIA ME SENTIR O "o maior tesouro"...

Essa herança amarga, que eu já amaldiçoei e desejei que nunca tivesse existido. Olha-la me faz sentir que ela me roubou de mim o meu sorriso.

Eu a odeio... Odeio toda vez que preciso me lembrar que ela existe. Eu realmente a odeio...

Não é minha prioridade. Mas... Se um dia Deus me der um trocado. Eu bou tirar meu nome dessa herança. Me sentirei livre dessa sombra na minha vida.

Serei pobre, sem 1 real pra onde cair morta. Mas tudo bem. Essa memória ruim, essas lágrimas, tudo, terá se dissolvido como um castelo de areia quando o mar vem.

Um dia poderei me sentir livre. Eu não quero nenhum real. Não queri 1 centavo...

Ah, sim. Acredita que falaram que eu não podia me casar com meu amado após 3 meses de namoro por que ele era um golpista?
Acredita? Bem... Eu realmente queria ter tido grana pra tirar meu nome desses documentos. Por mim é tudo do meu irmão. Ele é o herdeiro disso.

Eu sou a filha que já falaram: "A porta da rua é serventia da casa"
A filha que não se sentia acolhida.

Eu odeio essa herança... Se quiser me dar algo. Me dê seu livro de receitas favorito.
Aquela panela velha onde fizemos sopa juntas.
Aquele prato de estampa de coelhinho onde lembro de comer bolo, sushi e meus cafés da tarde mais felizes... Também o mesmo prato que já coloquei na mesa, coloquei um pouco de leite com achocolatado e tomei igual sopa. 
Estava com fome. Era meia noite e minha ultima refeição foi as 10 da manhã. Tinha dever da faculdade, tomar banho e ir pra casa, todos dormiam e eu estava sozinha, nem o cão se levantou para me receber naquela noite fria de inverno.

Somente eu e o prato de coelhinho. As lagrimas amargas e uma colher. Não havia bolachas e nada pronto. Só arroz cru, comida congelada na geladeira, algumas frutas e legumes.

Eu podia ter comido tomate, comido melancia, melão ou abacaxi.

Mas eu estava querendo arroz, feijão e comida salgada. Eu lamentava que naquele dia nenhuma colher de arroz coloquei na boca, sobrevivi comendo maçãs e um bolo de aipim com côco.

Era bom. Tem sabor de fome e solidão. Mas tem sabor amor de batalha. De suor.

Tu nunca passou fome.

Essa é a maior mentira que já ouvi. Dispensa cheia de comida. Mas tudo cru, congelado e eu sem tempo para cozinhar.

As vezes até tinha comida, comia aquela porção e encarava o prato vazio, cada grão de arroz eu lambia desesperadamente. Como um tamanduá bandeira. Enchendo de feijão a porção que tinha.

Eu lamentava. Quando comeria abertamente? As vezes ter fome é triste. Mas as vezes é pior ter comida em abundância de vez em quando. Pois aí tu come demais, mais do que precisa, por que tem a incerteza do amanhã.

Eu passei fome. Mas não por que era pobre. Mas por que estava abandonada...

Diziam você é grande. Se vira.

Isso era cruel. Estudar, trabalhar, receber pouco, dar tudo pra faculdade e ainda passar fome no intervalo. As vezes eu ficava perto dos fumantes. O cheiro do tabaco ajudava saciar a fome. Eu vivia sempre perto debum bebedouro, bebendo água como um cão sarnento.

Eles brincavam que eu era inchada e não gorda. De tanta água que viam eu beber... Eu ria... Pra depois se afastar e chorar. Era doloroso... Sentir tanta fome.

Mas o que doia mais era... Sentir ser esquecida e abandonada. Pois se me amassem. Me dariam o que comer... 

Por isso, eu odeio essa herança. Odeio por que sinto que ela tirou de mim a comida, o amor, a paz e a saúde mental... Eu a odeio... Tanto. Que já me fantasiei me pendurando com uma corda, tirando a vida de mim mesma nesse lugar. O deixando marcado. Como o lugar que a menina se .....

Bem... Eu... Realmente... Odeio... Tudo isso. 
Se Deus abençoar, estarei livre disso. Mas de forma que beneficie meu irmão. Por que não quero que minhas lagrimas sejam em vão...

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